Sugar, Honey, Honey
- Amanda de Urquidi Cimino
- 26 de fev. de 2019
- 5 min de leitura
Atualizado: 5 de mai. de 2019
Em janeiro de 2019, o Ministério da Saúde assinou um acordo com a indústria alimentícia para a redução de 144 mil toneladas açúcares nos alimentos e bebidas industrializados no Brasil até 2022. Além disso, o Brasil foi o primeiro país a fazer um acordo específico de metas nutricionais com as Nações Unidas. Mas afinal, o que é açúcar? Por que é tão dificil tirar o açúcar da nossa dieta? Por que iríamos querer uma coisa dessas?
The most important part of the Nutrition Decade is action, and Brazil is the first to make a SMART commitment. We hope that many others will follow,” Dr Chestnov. (OMS, 2017)
O Açúcar
Mel, fruta, xarope de alta frutose, açúcar invertido, afinal, o que é açúcar?
A palavra “açúcar” tem origem na palavra sânscrita sharkara, que significa “material em forma de granulado”. Em árabe, é sakkar; Turco é sheker; Italiano é zucchero; e falantes de iorubá na Nigéria chamam isso de suga (UDOP, 2019).
Quimicamente, os açúcares são carboidratos, que têm a função de nos dar energia e, normalmente, estão associadas ao gosto doce. Mas o açúcar não é apenas sobre dulçor, tente fazer um iogurte, pão ou geléia sem açúcar. O açúcar serve de alimento para a fermentação do iogurte e pão, conserva a geléia e é agente de coloração no pão. Esses são apenas alguns dos exemplos que tornam tão dificil a retirada desse cristal dos nossos alimentos.
Doce história
Apesar das recentes repercursões quanto ao consumo de açúcar, este é um hábito bastante antigo. Os primeiros relatos do uso de açúcar de cana são de 8000 A.C., época em que o açúcar era consumido por indígenas da Nova Guiné, que o mastigavam puro. (The_Sugar_Association, 2019)
O açúcar cristalizado, hoje chamado de vilão da saúde, foi utilizados pelos gregos e romanos com fins medicinais, nos tratamentos de indigestão e dor de estômago (The_Sugar_Association, 2019)
O cultivo da cana foi desenvolvido pelos Chineses, assim como 90% de tudo que utilizamos hoje. As técnicas foram rapidamente adotas pelos Pérsas e Europeus, que, depois, as disciminaram pelas Américas. Foram, os cruzadistas, no século 11, quem levaram o famoso “sal doce” para a Europa (The_Sugar_Association, 2019). No séulo 16, uma colher de chá de açúcar custava o equivalente à cinco dólares em Londres! Imagina tomar seu cafézinho diário à este custo? Não a toa, o açúcar era chamado de “Ouro Branco”, sendo usado pela nobreza Européia como símbolo de poder social.
“O açúcar é uma das mercadorias documentadas mais antigas do mundo e, ao mesmo tempo, era tão valioso que as pessoas o trancavam em um cofre de açúcar” (The_Sugar_Association, 2019)
Nas Américas, esse famoso cristal mudou o rumo da história. Estima-se que 12.570.000 de pessoas foram trazidas da África para Américas entre 1501 e 1867 para trabalhar nos cultivos, dentre o qual a cana é bastante representativo (HORTON, BENTLEY, & LANGTON, 2015). Sim, foi com o trabalho desses escravos que o consumo de açúcar se popularizou, tornando-se hábito em nossas casas.
Atualmente, o consumo anual está em cerca de 120 milhões de toneladas e está se expandindo à uma taxa de cerca de 2 milhões de toneladas por ano. O Brasil e a Índia são os principais produtores e, juntos, representam pouco mais da metade da produção mundial. O Brasil foi considerado em 2018 o maior produtor de açúcar do mundo (Compre_Rural, 2018), e o quarto maior consumidor (MDSA, 2016). O maior consumidor de açúcar do mundo é a Índia (MDSA, 2016).

Em usinas escuras, homens de vida amarga e dura produziram este açúcar branco e puro com que adoço meu café esta manhã em Ipanema (O Açúcar - Ferreira Gullar, 1975).
Açúcar e saúde
Embora tenha tamanha relevância histórica, a necessidade fisiológica de açúcar é muito baixa. O consumo de açúcar está associado à diversos problemas de saúde, como aumento da pressão arterial, diabetes tipo 2, aumento de peso, excesso de gordura no fígado e doenças relacionadas a funções cognitivas como hiperatividade e déficit de atenção. (CLEMENS, et al., 2016).
Em 2015, a Organização Mundial da Saúde lançou um guia de consumo de açúcar para adulto e crianças, em que recomenda a dosagem máxima recomendada de 25g, isso significa pouco mais de duas colheres de sopa (OMS, 2016).
Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008 e 2009, apontaram que 61,3% da população consome mais que o valor máximo do conteúdo de açúcar recomendado pela Organização Mundial da Saúde (PROZYN, 2018). Dados da pesquisa da OMS, em 2016, apontam que 54% da população brasileira está acima do peso, sendo 20% obeso, 8% possui diabetes, e 27% é inativo fisicamente (OMS 2016). Ou seja, se você está com mais alguém na sala enquanto lê essa matéria, muito provavelmente um dos dois está acima do peso,
Estima-se que o gasto público com diabetes em 2016 foi de R$6,6 bilhões ao ano, o equivalente a 5,5 maracanãs. O gasto per capita por ano era de R$ 2.900 em 2007. Em 2012, levando em conta a inflação no período, este gasto subiu para R$ 5.200 por ano por pessoa no Brasil, de acordo com o Sistema Único de Saúde. Em 2012, o Ministério da Saúde gastou só com insulina R$ 15 milhões (o valor do prêmio da mega sena), sendo o maior comprador de insulina do mundo (RIBEIRO, 2012). O número de mortes de pessoas por diabetes representa 6% dentre as causas de morte para a população brasileira (OMS, 2016). Essas números justificam as recentes mudanças regulatórias e da indústria de alimentos, entretanto, estamos preparados para a diminuição do açúcar em nosso cotidiano?
Com açúcar, com afeto
“Com açúcar, com afeto fiz seu doce predileto pra você parar em casa” (Com Açúcar, com afeto - Chico Buarque e Maria Bethânia, 1975)
Saber de todos os males envolvidos sabemos. Mas quem consegue visitar a vovó no domingo e resistir ao pudim?
Quem imagina escutar “Sugar, Honey honey” sendo substuíta por “Zero added sugar, honey, honey”. Ou ainda, ir à uma festa de casamento e escutar Marron Five dizendo “0% of Sugar”?
Culpemos aos indígenas da Nova Guiné, aos Europeus, às Américas, mas nem Freud explica nosso amor por açúcar. Nada pode ser mais nostálgico que o brigadeiro na festa de aniversário. Nada pode ser mais brega que ouvir a pessoa amada te chamando de docinho. O açúcar é parte de nossos rituais, de nossa memória afetiva e tirá-lo de nossas vidas não é uma tarefa para amadores. Sendo assim, por hora, aproveitemos nossa bola de sorvete, façamos desse momento algo especial respeitando nosso corpo e lutando diariamente contra os excessos.

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Bibliografia
Compre_Rural. (2018). BRASIL, MAIOR PRODUTOR DE CANA DE AÇÚCAR DO MUNDO SEGUIDO PELA ÍNDIA. Fonte: https://www.comprerural.com/brasil-maior-produtor-de-cana-de-acucar-do-mundo-seguido-pela-india/
CLEMENS, R. A., JONES, J. M., KERN, M., LEE, S.-Y., MAYHEW, E. J., SLAVIN, J. L., & ZIVANOVIC, S. (2016). Funcionalidade dos Açúcares em Alimentos e Saúde. Revisões abrangentes em ciência de alimentos e segurança alimentar. Revisões abrangentes em ciência de alimentos e segurança alimentar. 15.
DANTAS, C. (2017, Novembro). Conheça os 'selos saudáveis' colocados nos alimentos no Chile, e que o Brasil estuda adotar. O globo. Retrieved Novembro 2018, from https://g1.globo.com/bemestar/noticia/conheca-os-selos-saudaveis-colocados-nos-alimentos-no-chile-e-que-o-brasil-estuda-adotar.ghtml
EUROMONITOR. (August de 2018). Nutrition Sizes. Euromonitor.
HORTON, M., BENTLEY, A., & LANGTON, P. (Oct de 2015). A history of sugar – the food nobody needs, but everyone craves. The conversation. Uk: University of Bristol. Fonte: http://theconversation.com/a-history-of-sugar-the-food-nobody-needs-but-everyone-craves-49823
MDSA. (2016). Brasil é o 4º maior consumidor de açúcar do mundo. Fonte: http://mds.gov.br/area-de-imprensa/noticias/2016/junho/brasil-e-o-4o-maior-consumidor-de-acucar-do-mundo
OMS. (22 de May de 2017). Brazil first country to make specific commitments in UN Decade of Action on Nutrition. Organização Mundial da Saúde. Acesso em September de 2018, disponível em http://www.who.int/nutrition/decade-of-action/brazil-commitment-22may2017/en/
RIBEIRO, É. (2012). Paciente com diabetes no Brasil gasta R$ 5,9 mil por ano com tratamento. Brasil econômico, IG. Fonte: https://economia.ig.com.br/2012-11-16/paciente-com-diabetes-no-brasil-gasta-r-59-mil-por-ano-com-tratamento.html
The_Sugar_Association. (2019). History of Sugar. Fonte: https://www.sugar.org/sugar/history/
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OMS. (2017, May 22). Brazil first country to make specific commitments in UN Decade of Action on Nutrition. World Healt Organization. Disponível em: <http://www.who.int/nutrition/decade-of-action/brazil-commitment-22may2017/en/: Acesso em: Setembro, 2018.
PROZYN (2018). Novas Tecnologias para Redução de Açúcar em Panificação. Aditivos e Ingredientes. Disponível em: <http://aditivosingredientes.com.br/upload_arquivos/201706/2017060085029001498323902.pdf>. Acesso em: Agosto, 2018.
UDOP. (2019). O Açúcar. Fonte: http://www.udop.com.br/index.php?item=noticias&cod=828
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