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Cocoa Power!

  • Foto do escritor: Amanda de Urquidi Cimino
    Amanda de Urquidi Cimino
  • 10 de fev. de 2019
  • 4 min de leitura

Atualizado: 5 de mai. de 2019

Ruby cocoa - Barry Callebaut

Recentemente, a grande produtora de cacau, Barry Callebaut, anunciou seu mais novo lançamento: O chocolate naturalmente rosa. Essa é a primeira inovação na cor do produto em mais de 80 anos, desde o surgimento do chocolate branco, de acordo com a companhia (Callebaut, 2017). Essa inovação nos remete a pensar: e antes do chocolate rosa e branco? De onde surgiu e por onde passou o cacau historicamente? Qual caminho ele teria traçado até se tranformar nesse produto dos deuses? E veja só, a resposta é essa mesma, a origem mitologica do cacau é que ele nos teria sido dado por deuses, de acordo com os Olmecas.



Entre Américas e Europa


O cacau era considerada uma bebida salgada pelos Olmecas e Maias

Embora a árvore de cacau tenha origem amazônica, foi na atual região do México que os Olmecas a utilizaram por primeira vez. Para os Olmecas, e posteriormente Maias, o cacau era consumido na forma de uma bebida sagrada. É então, dessa origem a palavra “xocoatl”, que significa “água amarga”/ “Água quente”. Para os Astecas, a bebida de cacau era considerada um energético e até mesmo afrodisiaco (crianças, não tentem isso em casa).

Entretanto, foi somente com a chegada dos europeus às Américas, que esta bebida sagrada se aproximou do nosso conhecido chocolate. Os Europeus, nada bobos, acrescentaram à bebida o açúcar e alguns outros elementos para disfarçar o amargor. Com a revolução industrial, a comercialização da bebida se popularizou na Europa, sendo vendida nas “casas de chocolate”, digamos assim, os Starbucks da época. Na década de 50, Joseph Fry criou o produto no formato barra, mas foi um Belga, Jean Neuhaus II, quem teve a ideia de criar confeitos recheados (World_Cocoa_Foundation, 2018), (Worldagroforestry), (Lindt).

Amado pelos Astecas (e por você, muito provavelmente), esse fruto foi homenageado por Jorge Amado, em 1933, em seu romance “Cacau”. Nesta obra, o contexto histórico do cacau narra a expansão de ideias socialistas e luta de classes no Brasil.




Tecnologia Produtiva

Atualmente, o processo de obtenção do cacau é um tanto mais complexo do que poderíam imaginar os Maias. Em linhas gerais, primeiramente faz- se a colheita do fruto, extração das sementes (manualmente), fermentação, secagem da semente, limpeza, torrefação, descasque, moagem, extração da mantega de cacau, e mais uma série de processos químicos dependendo da característica de pó que se deseja obter (UFRGS). Para obtenção do chocolate, o processo envolve uma série de reações, como: refino, caramelização, Maillard, cristalização (isso mesmo, são formados cristais), entre outras. Essas etapas podem variar de acordo com o produtor e um pequeno desvio de 2 graus de temperatura, ou uma gota de água, pode modificar a estrutura de cristais e colocar tudo a perder.




Contexto Social e Mercado


Fruto de cacau

O processo produtivo de cacau tem bastante representatividade no Brasil. Em 2017, o Brasil era o quinto maior produtor de cacau, ao lado da Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões (AgroLink, 2017)

O produto de origem sagrada, entretanto, é atualmente marcado por um dos grandes mercados de trabalho escravo. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014, cerca de 8 mil crianças e adolescentes de 10 a 17 anos trabalham em plantações de cacau no Brasil. Já o IBGE estima que os números de trabalho infantil aumentaram 5% entre 2000 e 2010 nas regiões produtoras de cacau, apesar da tendência de queda de 13,4% no uso de mão de obra de crianças e adolescentes na soma geral das atividades (Cardeal, 2018). Entretanto, muitas empresas têm comunicado em seus rótulos os valores éticos em toda a cadeia produtiva. A Nestlé Brasil, por exemplo, informou que não há lugar para trabalho infantil na cadeia de suprimento da empresa. Já a Hershey, diz que a empresa trabalha ativamente com parceiros públicos e privados em todo o mundo para garantir que o cacau utilizado em seus produtos seja de origem responsável. (Correio_Braziliense, 2016)

A cobrança social tem tido relevante impacto na diminuição de trabalho escravo neste mercado. No Reino Unido, 51% dos adultos britânicos concordam que vale a pena pagar mais pelo chocolate que garante pagamento justo aos produtores de cacau (Mintel, 67 Cents per Day, 2019). E você? Está atento ao posicionamento social durante sua compra?



Prazer em forma de cacau


Não se sabe em detalhes a tecnologia por trás do chocolate rosa, porém o que se sabe, é que rosa, branca ou marron, bebido, comido, ou derretido, o Xocoatl segue abençoando gerações ao redor do mundo. Viciados afirmam que é possível alcançar o nirvana ao sentir essa massa pastosa derrentendo, e se transformando em uma mescla única de aromas. Uma pesquisa na Inglaterra mostrou que 79% dos entrevistados concordam que o chocolate é um dos prazeres da vida (Mintel, Chocolate Confectionary UK, 2018), muito embora nós já saibamos muito antes de embasamentos científicos.

Entoado em versos, o cacau é homenageado por diversas figuras públicas: Drummond, quando questionado se gostava de poesia, afirmou que gosta mesmo é de chocolate (entre outras cositas más). Tim Maia afirmava veemente que só queria chocolate. Fernando Pessoa quisera comer chocolate com a mesma verdade que o come a pequena, referida no texto “Tabacaria”. O Trem da Alegria entoou que o amor é feito de chocolate. Ousaria eu discordar?






Bibliografia


  1. AgroLink. (2017). Brasil é o 5º maior produtor de cacau com 90% de exportação. Fonte: https://www.agrolink.com.br/noticias/brasil-e-o-5--maior-produtor-de-cacau-com-90--de-exportacao_217090.html

  2. Callebaut, B. (05 de September de 2017). Chocolate naturalmente rosa é criado pela maior processadora de cacau do mundo. Fonte: https://www.barry-callebaut.com/en/group/media/news-stories/barry-callebaut-reveals-fourth-type-chocolate-ruby

  3. Cardeal, T. (11 de 2018). Relatório sobre trabalho escravo e infantil na cadeia produtiva do cacau será lançado nesta sexta. Instituto Ethos. Acesso em Feb de 2019, disponível em https://www.ethos.org.br/cedoc/relatorio-sobre-trabalho-escravo-e-infantil-na-cadeia-produtiva-do-cacau-sera-lancado-nesta-sexta-30/#.XFn4MlxKg2w

  4. Correio_Braziliense. (2016). Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2016/03/02/interna_mundo,520225/apos-denuncia-de-uso-de-mao-de-obra-infantil-nestle-e-hershey-se-defe.shtml

  5. Lindt. (s.d.). Cocoa – The food of the Gods…. Acesso em 2019, disponível em https://www.chocolate.lindt.com/world-of-lindt/lindt-in-history/history-of-cocoa/

  6. Mintel. (May de 2018). Chocolate Confectionary UK. UK.

  7. Mintel. (Jan de 2019). 67 Cents per Day. Belgium. Acesso em Feb de 2019, disponível em http://reports.mintel.com/trends/#/observation/937810

  8. UFRGS. (s.d.). Processamento de Chocolate. Acesso em Feb de 2019, disponível em http://www.ufrgs.br/alimentus/disciplinas/tecnologia-de-alimentos-especiais/chocolates/processamento-de-chocolate-1

  9. World_Cocoa_Foundation. (Aug de 2018). History of Cocoa. Fonte: https://www.worldcocoafoundation.org/blog/history-of-cocoa/

  10. Worldagroforestry. (s.d.). History of Cocoa. Acesso em 2019, disponível em http://www.worldagroforestry.org/treesandmarkets/inaforesta/history.htm


Euzinha no meio da fazenda de cacau em Ilhéus (2014)

 
 
 

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