De Volta no Futuro
- Amanda de Urquidi Cimino
- 5 de mai. de 2019
- 7 min de leitura
Atualizado: 9 de mai. de 2019
Imagine domingo de manhã. Você em sua casa, esperando por amigos para o almoço. Será um almoço especial, com amigos de anos atrás! Você começa seu momento Master chef combinando o manjericão, com curry e salsa. Ah se você pudesse ter certeza de qual combinação agradará todos eles e ainda combinará com o penne! Se você pudesse prever a quantiadade perfeita de pimenta que agrade a Ana, da turma dos orgânicos, e o João, que adora uma torcida bem condimentada!
Agora considere um segundo cenário. Quinta-feira, sete da noite. Você está saindo correndo do trabalho, atrasadíssimo para a prova do inglês. Seu estômago apita, mas o relógio te lembra que só há tempo para um Drive Thru no Mc Donalds, save o drive thru! Porém....No carro da frente está uma família, com três filho mais o priminho, um cachorro e dois papagaios. O irmão mais velho parece indeciso entre o Mc lanche feliz ou algo mais adulto. O do meio pode querer um milk-shake, mas ainda não tem certeza... E o papagaio pede por uma edição limitada da torta de frutas vermelhas, mas que parece já ter acabado. Cada segundo de espera na fila, se transforma em 2 minutos a mais no trânsito. Cada minuto, em uma questão à menos da prova. A fome aperta, o relógio dispara. Alguém simplesmente pode decidir por essas crianças? Alguém pode decidir até por mim? Eu só quero o mesmo da quinta passada! Por favor nem me pergunte se é coca cola ou guaraná.
Bem, (boa/má/sem julgamentos) notícia é, sim, alguém já sabe que lanche você gosta mais! E que sim, existem 3 unidades no estoque, você sequer precisa pedir. E sim, Alguém já desenvolveu o tempero perfeito que vai agradar a Ana e o João, e ainda combinar com o seu penne. Seu almoço será um sucesso.
Para seu almoço de domingo, a McCormick, uma das mais tradicionais fábricas de temperos do mundo, anunciou o uso de inteligência artificial (IA) na criação de novos sabores de condimentos, em parceria com a IBM. A plataforma, chamada “One”, examina esses dados para identificar padrões e combinações que os humanos talvez ainda não tenham considerado. A expectativa é que a primeira leva de produtos feitos com IA seja lançada ainda neste ano e que a tecnologia esteja presente em toda linha de montagem da McCormick até 2021. (Isto_e_Dinheiro, 2019)
Para os apressados de plantão, O Mc Donalds adquiriu uma startup de Inteligência Artificial de forma a criar menus personalizados de forma a aumentar a visão criativa e velocidade, de acordo com o CEO Steve EasterBrook. A tecnologia está sendo testada nos Estados Unidos (InfoMoney)
Esses são apenas dois exemplos do uso de tecnologia, as FoodTechs, como futuro (ou seria presente?) em nossa alimentação. As foodtechs estão entre as novas estrelas ascendentes no mercado global de tecnologia (a previsão da Research and Markets é de um mercado global de US$ 250,4 bilhões até 2022). Escondidas em diversos segmentos, desde a plantação, pesquisa, desenvolvimento até a forma de consumo final. O uso dessas novas tecnologias na alimentação conseguiu juntar, até mesmo, Bill Gates, Mc Donalds, Twitter e Leonardo DiCaprio. Mas onde está aplicada?
Desde a plantação
Se você ainda visualiza o agronegócio como aquele trator enferrujado no meio do sertão, alguém precisa te contar a verdade eminente sobre este setor: A Inteligência Artifical chegará também na plantação de soja, graças à AgTech, termo criado no Vale do Silício para se referir às empresas que trabalham com inovação aplicada ao agronegócio. A cidade de Piracicaba, por exemplo, já é conhecida há três anos como AgTech Valley, uma espécie de Vale do Silício brasileiro da agricultura, tudo por conta do grande ecossistema tecnológico formado por universidades, como a Esalq-USP, e empreendimentos de inovação agro (Sebrae, 2019)
Vivemos em uma sociedade extremamente dependente da ciência e tecnologia, na qual pouquíssimos sabem alguma coisa sobre ciência e tecnologia. Carl Sagan
A Mvisia e Agrorobótica são exemplos de startups que seguem essa tendência. A Mvisa, por exemplo, desenvolve máquinas e sistemas baseados em visão computacional e inteligência artificial para determinar o índice de qualidade de produtos agrícolas. Na prática isso significa que casos de contaminação ou de má qualidade de produtos alimentícios industrializados estão com os dias contados (Sebrae, 2019).
Pela ciência
Não só no campo, mas na sala de aula e laboratórios. Na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, por exemplo, o laboratório de óleos e gorduras faz uso da tecnologia Nitryx-MIX, que consiste em uma ferramenta que usa Inteligência Artificial com a finalidade de formular produtos com base gordura, de forma a maximizar a performance nutricional e minimizar o custo (FISPAL, 2018)
Tudo o que amamos na civilização é produto da inteligência. Portanto, ampliar nossa inteligência humana com a artificial tem o potencial de ajudar a civilização a prosperar como nunca antes - desde que consigamos manter a tecnologia benéfica. Max Tegmark, professor do MIT e co-fundador do Future of Life Institute (FLI).
Até o seu prato
Para os nascidos nos anos 90, parecia impossível imaginar que um dia Os Jacksons seríamos nós! Imprimir receitas é coisa do passado, o presente é imprmir comida! A Natural Machines, que criou a FOODINI, uma impressora 3D capaz de fabricar alimentos em casa a partir de ingredientes frescos processados antes da impressão (Costa, 2018). Imagina poder criar receitas com cores e formatos que você quiser?
Este é o melhor motivo para estudar história: não para poder predizer o futuro, e sim para se libertar do passado e imaginar destinos alternativos. Yuval Noah Harari
Obviamente, a Coca-Cola não ficaria para trás. Com os dados coletados em suas mais de 40 mil máquinas self-service de bebidas disponibilizadas no mercado norte-americano e europeu desde 2009, foram identificados os sabores favoritos dos consumidores. A máquina oferece mais de 150 combinações de sabor de bebidas gaseificadas e não gaseificadas. Uma das combinações favoritas – de Sprite com o sabor cereja – culminou com o lançamento da Sprite Cherry e sua versão zero (Duas_Rodas, 2019). Menciono aqui que minha inteligência natural não permite entender o que esses gringos vêem de tão especial na Coca-Cola cherry....
Por um mundo melhor
Acontece que o uso da tecnologia associado à alimentação vai muito além de estratégias de mercado e diversão, passando a ser uma ferramenta em busca de alternativas sustentáveis.
O prognóstico de crescimento populacional para os próximos 30 anos indica que seremos 9,6 bilhões de habitantes no planeta até 2050. A expectativa da Food and Agricultural Organization das Nações Unidas é de que precisaremos aumentar a produção mundial de alimentos em 70%, o que exigiria dobrar o desmatamento e levaria, por conta da pecuária, a um crescimento de 77% na emissão de gases geradores do efeito estufa (Costa, 2018).
Com essa mudança até o dono da Microsoft entrou na dança dos alimentos. Bill Gates e Richard Branson, se envolveram com empresas de “criação de carne em laboratório”, que talvez venha solucionar o velho desafio de reduzir a subnutrição, especialmente nos países menos desenvolvidos. . A carne de laboratório utiliza 100 vezes menos terra e 5,5 vezes menos água, o que, por si só, já justifica o interesse de notáveis como Gates e Branson (Costa, 2018).
A Beyond Meat, que também tem Bill Gates e outras estrelas como investidores, entre eles Don Thompson, ex-CEO do McDonald’s; Biz Stone e Evan Williams, fundadores do Twitter; e o ator ativista Leonardo DiCaprio, é mais uma startup que já está degustando este mercado com a fabricação de hambúrgueres e salsichas saudáveis feitas com vegetais. (Costa, 2018).
O Não-Algo
Outro exemplo de uso que merece atenção é a startup chilena NotCo, ou não-companhia. A partir do uso de inteligência artificial, o sistema chamado Giuseppe, a startup desenvolve alimentos veganos. Giuseppe, através de algoritmos, identifica quais elementos das plantas pode ajudar a recriar o sabor de queijo, iogurte, maionese ou chocolate, criando assim alimentos que não tem nenhum ingrediente de origem animal. A empresa chega no Brasil este ano através do canal de distribuição do Pão de Açúcar. Será que trarão a não-maionese de grão de bico, para comermos com o não-hamburguer de beterraba, e finalizar com um não-sorvete de ervilha?
Homo-Nada
Imagine ter seus dados coletados a partir da análise de DNA e hábitos, a fim de identificar quais os componentes seu organismo está carente e, com isso, “cozinhar” uma receita personalizada para suprir suas necessidades nutricionais? Ou ainda, imagine que seu relógio consiga identificar seu baixo pico de pressão, de modo que automaticamente sua cozinha imprima seu “shot” de sal? Pense ainda em um sistema de block-chain que te permita saber toda a saga do trigo que chegou no seu paõzinho? Parece Black Mirror, eu sei. Tão encantador, quanto assustador.
O crescimento da IA pode ser a pior ou melhor coisa que já aconteceu para a humanidade. Stephen Hawking
Querendo ou não, estão aí os Giuseppes entre tantos outros robôs, presentes no tempero do almoço do domingo com João e na escolha do menpu do Mc Donalds. Por essa, nem Doc Borwn, o cientista de “De volta para o futuro”, esperava! Mas, afinal, qual o limite entre a ética e privacidade e os benefícios por trás desse admirável mundo novo? Quais as consequências se um alimento robotizado “der errado”? Será mesmo que os humanos são algoritmos desde o DNA até cada sabor de refrigerante escolhido? E ainda, está correto afirmar que o uso de AI nos permitirá combater a fome e pobreza? Ou seria essa uma tecnologia para poucos?
Não acredite em tudo que lê na internet. Exceto isso. Bem, incluindo isso, eu acho. Douglas Adams.
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Bibliografia
Costa, O. (2018). A tecnologia mudará sua comida no futuro? Istoé_Dinheiro.
Duas_Rodas. (2019, Abril). Seis aplicações da inteligência artificial no desenvolvimento de novos alimentos e bebidas. Retrieved from https://www.duasrodas.com/blog/inovacao/inteligencia-artificial-no-desenvolvimento-de-novos-alimentos-e-bebidas/
FISPAL. (2018, Fevereiro). Como Adotar Inteligência Artifical e Machine Learning para Inovar. Brasil. Retrieved from https://digital.fispaltecnologia.com.br/como-adotar-inteligencia-artificial-e-machine-learning-para-inovar-2/
InfoMoney. (n.d.). McDonald’s compra empresa de inteligência artificial por US$ 300 milhões. Retrieved from https://www.infomoney.com.br/negocios/grandes-empresas/noticia/8042377/mcdonalds-compra-empresa-de-tecnologia-por-us-300-milhoes
Isto_e_Dinheiro. (2019, Fev). IBM e McCormick usam inteligência artificial para produzir temperos. Retrieved from https://www.istoedinheiro.com.br/ibm-e-mccormick-usam-inteligencia-artificial-para-produzir-temperos/
Sebrae. (2019, Abril). STARTUP USA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA DETECTAR ALIMENTOS PODRES. Globo. Retrieved from https://revistapegn.globo.com/Tecnologia/noticia/2019/04/startup-usa-inteligencia-artificial-para-detectar-alimentos-podres.html
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