Alimentando a História

Não é novidade dizer ressaltar a relevância da dieta da para os humanos. A alimentação vai além da sobrevivência, a alimentação representa parte de aquilo que nos torna sociedade.

Natal nos remete a peru (ou à passas, para o desespero de alguns), aniversário a bolo, cinema à pipoca, romance a vinho, vovó a bolo de cenoura e amigos à pizza. Alimentar-se é um ato muito além de se nutrir, alimentar-se é criar laços e memórias. Alimentar-se nos move como sociedade.

Entretanto, o mesmo ato que nos une, também representa os contrastes de uma sociedade. Segundo a Organização Mundial do Trabalho, o mundo tem 152 milhões de crianças no trabalho infantil e a agricultura representa 70,9% desta fatia (Martins, 2017). De acordo com a FAO, o aumento no número de pessoas passando fome no mundo subiu de 815 milhões de indivíduos, em 2016, para quase 821 milhões em 2017 (ONU, 2018). A obesidade mundial quase triplicou desde 1975 (WHO, 2018). Para além dos dados atuais, a alimentação vem de um impacto histórico em nossa sociedade.

A sobrevivência humana se deve às nossas adaptações genéticas em resposta à hábitos culturais. Há mais de 10000 anos, uma mutação genética nos permitiu digerir as substâncias contidas no leite mesmo apos a vida adulta, permitindo assim acesso à essa fonte potencialmente valiosa de proteína animal (Pilcher, 2017). Essa mutação, porém, não é vista em alguns grupos da Europa, da Ásia Central e da África Oriental. Isso porque essa mudança genética era desnecessária para sociedades que possuiam alternativas à alimentação de leite comum. Esses povos fermentavam o leite, quebrando a parte indigerível, no processo de fabricação de queijo e iogurte (Pilcher, 2017).

Além da genética, outras associações se relacionam à alimentação, como, por exemplo, associações culturais O chá não se tornou popular na China até a dinastia Tang (618-907 ce), e nenhuma batata, de proveniência sul-americana, foi comida por irlandeses, antes das viagens de Colombo. Transformações na produção de alimentos, a partir do ascensão da agricultura e pastoralismo para o intercâmbio colombiano e industrialização, tiveram profundas repercussões sociais (Pilcher, 2017).

O papel de gêneros deriva também em grande parte da divisão do trabalho em preparar alimentos e da alocação de consumo dentro da família.

A ascensão dos impérios romano e chinês trouxe as técnicas de cultivo à algumas sociedades, Diferenças dietéticas influenciaram em estilos de vida diferentes. Os apetites carnívoros dos nômades simbolizavam sua natureza bárbara aos olhos de seus vizinhos mais sedentários (Pilcher, 2017).

Outra grande revolução tecnológica em torno da alimentação em função de contexto histórico ocorreu no século XIX. Com a guerra, foi preciso desenvolver uma tecnologia que evitasse que o alimento se deteriorasse. Surge assim, o alimento esterilizado dentro da embalagem, desenvolvido por Appert, na França. (SUPER_INTERESSANTE, 2018).

No Brasil, a influência do consumo alimentar também revela o impacto histórico. Durante anos, duas principais bebidas locais definiam o presidente da república, na chamada política café com leite.

Atualmente, a economia ainda é regida em grande parte por nossos hábitos alimentares. A Coca-cola é a quarta marca mais valiosa do mundo, perdendo apenas para empresas do ramo de tecnologia e informação. Dentre as 50 marcas mais valiosas do mundo em 2016, seguem destaque ainda outras poderosas no ramo de alimentos e bebidas: Mc Donalds, Budweiser, Pepsi, Nescafé, Lay’s, Starbucks e Nestle (Badenhausen, 2016).

Em suma, o intuito desta página é mostrar que, por detrás do cafezinho matinal, existe uma história de como o Vietnã se recuperou da guerra. Que, para desenvolver o pão com queijo do lanche da manhã, existiram milênios de seleção microbiológica. Que, dentro da cinturinha da lata de leite condensado usada na sobremesa, existe integrais e derivadas (e não estamos apenas falando de leite integral) para melhor tratamento térmico. Que a absorção de ferro da feijoada não é a mesma se você resolver tomar um suco de laranja ou um copo de leite junto à refeição, por mais estranha que a segunda opção pareça. E que, para ser ainda mais estranho, proteína de grilos, ou até baratas, pode vir a ser a nova moda do verão e inverno.

O objetivo desta página é olhar ao redor, e se perguntar o que está por trás de cada brinde compartilhado.

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Bibliografia

1. Badenhausen, K. (Maio de 2016). 50 marcas mais valiosas do mundo em 2016. Forbes. Fonte: https://forbes.uol.com.br/listas/2016/05/50-marcas-mais-valiosas-do-mundo-em-2016/#foto50

2. Martins, H. (19 de Set de 2017). OIT:152-milhoes-de-criancas-trabalho-infantil-2016. Agência Brasil. Acesso em 2019, disponível em http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-09/oit-152-milhoes-de-criancas-trabalho-infantil-2016

3. ONU. (11 de Set de 2018). FAO: fome aumenta no mundo e afeta 821 milhões de pessoas. Acesso em Jan de 2019, disponível em https://nacoesunidas.org/fao-fome-aumenta-no-mundo-e-afeta-821-milhoes-de-pessoas/

4. Pilcher, J. (2017). FOOD IN WORLD HISTORY. Themes in World History. NY, USA: Routledge.

5. SUPER_INTERESSANTE. (04 de jul de 2018). Como e quando surgiu a comida enlatada? Redação Mundo Estranho. Fonte: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-e-quando-surgiu-a-comida-enlatada/

6. WHO. (Fev de 2018). Obesity and overweight. Acesso em Jan de 2019, disponível em https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight